Olá! Bom ano de 2020! Este é o meu primeiro post deste ano, que já começou com uma semana de gripe. Felizmente a Maria Clara ficou só ligeiramente constipada. Mas agora já estou (quase) totalmente recuperada. Senti que no primeiro post deste ano gostaria de escrever sobre a condição de ser artista. Confesso que já me passaram pela cabeça várias abordagens a este tema, para desabafar um bocadinho aqui no blog. Mas, sem dúvida que, a revelação e anúncio feito pela cantora Raquel Tavares esta semana, fez-me pensar ainda mais sobre essa mesma condição... de ser artista. Não vou de todo escrever sobre a Raquel, já muito se falou e escreveu. E se não estás a par deste assunto, das três opções, uma: ou não vês O Programa da Cristina, ou não tens redes sociais, ou foste mãe há pouco tempo! Eu compreendo...
"Ser artista é uma forma de vida, não é uma forma de trabalho", "um artista nunca pode ser absolutamente ele mesmo em público..." Estas duas frases provocam-me inquietação, porque considero-me artista, artista na minha maneira de ser e viver, e artista de profissão. E na vida temos que trabalhar para viver, para pagar contas, para seguir certas regras desta sociedade. Por muito que sinta a condição artista como uma forma de vida, preciso que ela seja também uma forma de trabalho.
Não é o artista que não pode ser ele mesmo em público... é a pessoa, é o ser humano onde vive o artista. E isso de facto é muito complicado de gerir. Para muitas pessoas, que não são artistas, torna-se difícil entender, porque só vêm aquilo que de bom nos traz a condição de ser artista e dizem: é o preço a pagar, quem corre por gosto não cansa... etc. Pois bem, posso até concordar. Mas enquanto pessoa, o artista, também tem dias nublados, cinzentos, problemas familiares, ou de saúde, amores e desamores... agora imagina-te na pior situação da tua vida? Pensa naquele momento que foi mesmo o pior que já passaste... e toda a gente à tua volta a comentar, a opinar, ou a querer a tua boa disposição e atenção. Garanto-te, não é nada fácil. Mas o artista é bom a fingir sentimentos, no seu trabalho, não é?
Por acaso já me aconteceu estar num café com pessoas amigas e ouvir as senhoras da mesa ao lado a comentar a minha vida, profissional e pessoal, como se eu ali não estivesse, como se fosse um holograma. Ossos do ofício... não é?
O artista, aqui falo do ator ou do cantor, precisa do público para mostrar a sua arte, para dar tudo de si em palco, seja esse palco num teatro ou televisão, sem público nada disto faz sentido. E quando somos artistas temos de entender que há um lado da exposição que não podemos evitar. Quanto mais a nossa arte nos expõe, mais sacrifícios temos que fazer. E muitas vezes o lado pessoal, a família, os amigos mais próximos são os mais sacrificados. Por vezes é difícil balancear aquilo que somos por natureza, a profissão que escolhemos ter, os altos e baixos do meio artístico, as fragilidades do artista que habita em nós, os nãos... os muitos nãos.
Há muita solidão na condição de ser artista, por isso é bom estarmos rodeados de boas pessoas e termos sempre o nosso refúgio, onde somos apenas pessoas, seres humanos, reais.
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