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  • Foto do escritorPatrícia Candoso

Ser Mãe


Apenas dezoito anos me separam da minha mãe. O meu nascimento foi, como julgo ser para todas as mulheres que são mães pela primeira vez, uma experiência única de total desconhecimento do tamanho do medo e amor que seriam infindáveis a partir daquele momento. Eram outros tempos, e os meus pais mal começavam a sua história e já tinham uma filha nos braços. O meu pai é transmontano, a minha mãe nasceu em Angola mas tem as suas raízes familiares no Douro, conheceram-se em Lisboa e depois de se casarem decidiram viver na capital. Foi em busca de novas oportunidades e de uma vida melhor que rumaram para sul longe das suas famílias.

Já perdi a conta das vezes em que me perguntaram, pessoalmente ou em entrevistas, “para quando um bebé?” Vezes sem conta respondi, quase automatizada, “quando chegar a altura certa... há que reunir condições!”

Acho que os meus pais não esperaram pela dita altura certa, mas sem dúvida que foi no momento certo que nasci. Quanto ao reunir condições... é um pouco subjectivo, no início dos anos 80 não havia as necessidades que existem hoje em dia. Digo necessidades, mas também poderia dizer, vontades, modas ou consumismo. Eu tive apenas uma chupeta... Bom, talvez pudesse ter tido mais uma ou duas! Eu recebia dos meus pais dois presentes por ano, no dia dos meus anos e no Natal. A ansiedade de saber se seria aquele brinquedo que pedi, que estaria embrulhado debaixo da árvore de Natal, era deliciosa. Não sei se a maioria das crianças hoje em dia sabe o que é essa magia. Até poderia escrever sobre a espécie de lavagem cerebral consumista que todos nós sofremos nos últimos trinta anos mas, não é o propósito deste texto.

Os meus pais sempre foram pessoas honestas, trabalhadoras e batalhadoras, tenho muito orgulho na forma como nos criaram e educaram, a mim e à minha irmã. Acompanhei vários períodos das suas vidas em que os obstáculos não foram fáceis de ultrapassar, ainda para mais longe do apoio familiar. Para a minha mãe, principalmente, a família é tudo. O seu sentido familiar, de ajuda ao próximo, de dádiva, é grandioso.

Será que é esta a altura certa? Por vezes é assustador e incómodo ouvir frases como: “Já passaste dos trinta... vais ter filhos quando... aos 40”. Finjo que não me acertou bem no fundo do coração, e sorriu... Eu sei perfeitamente que idade tenho não preciso que mo digam, muito menos para servir de referência a um assunto tão delicado. A pressão que nós mulheres sentimos é demasiada e muitas das vezes exercida por nós próprias. Não deveríamos ser mais sensíveis umas com as outras? Afinal de contas somos todas mulheres e passamos todas pelas mesmas decisões e ansiedades relativamente à questão: ser ou não ser mãe? Ou quando ser mãe? Ou até, não posso ser mãe.

O meu momento certo de ser mãe está a chegar... naqueles momentos de aperto, de dúvida e até mesmo pânico vou sempre pensar: Quero A Minha Mãe...! E sei que ela vai lá estar.

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